Meus filmes preferidos de 2017

Só agora no finalzinho do ano vi “Guimme Danger” do Jarmusch, documentário sobre Iggy Pop & The Stooges que adorei, principalmente por mostrar que Iggy e a banda tinham consciência do que faziam, da cena musical, da teatralidade do espetáculo, dos aspectos artísticos e musicais profundos e não eram apenas garotos descerebrados fazendo barulho. Muita imagem de arquivo interessante, ótima edição e som.

Acho que o filme de ficção que mais me deu prazer em 2017 foi “Monsieur & Madame Adelman”, que não vejo em nenhuma lista de melhores. Estreia do ator francês Nicolas Bedos na direção (ele ainda escreveu o roteiro, compôs a música e atua), o filme emula um Woody Allen sem medo de ser feliz. É a história do relacionamento de um escritor e sua mulher ao longo de 45 anos. Um espetáculo.

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Também meu deu grande prazer ver “Já não me sinto em casa neste mundo”, estréia do ator Macon Blair na direção, contando essa história de humor negro à la Saulnier, onde uma mulher deprimida e ansiosa se une ao seu vizinho esquisito para combater criminosos. Não tão interessantes, mas imaginativos e ótimos de ver, foram “A Morte te dá Parabéns”, espécie de “Feitiço do Tempo” de terror, mas com bom-humor e ótima direção; e “A Babá”, arroubo do diretor McG para a Netflix, um avanço em tema e terror para “Stranger Things” com muito sangue. Di-ver-ti-dís-si-mo!

Ainda em termos de “prazer”, “Em Ritmo de Fuga” é um abuso de cool, direção alucinante, música incrível e ótimos atores, com destaque para o Ansel Elgort, que pode ser um dos grandes. Filme de cinema.

Me deu prazer e me fez pensar ver “Logan”, acho que o melhor “filme de herói” já produzido. Há tantas questões nesse filme, é tão complexo, fala de imigração, direitos humanos, novas configurações de família, paternidade, velhice, sanidade, morte… Não por acaso, o roteirista é o mesmo de “Blade Runner 2049”, Michael Green. Muitos têm preconceito com os tais “filmes de heróis” – estão perdendo a oportunidade de ver filmes como “Logan” e discutir coisas importantes com seus filhos. Isso não tem nada a ver com “Deadpool”.

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Nesse sentido, “Mulher Maravilha” também é um grande filme. O roteiro pode não ser uma maravilha (sic), esquemático, com o turning point do vilão e o final caracteristicamente over de explosões, que virou lugar comum desses filmes e é um saco. Mas, sim, temos ali uma heroína tratada com atenção e os que se preocupam mais com a falta de pelos nas axilas ou o posicionamento político de Gal Gadot não percebem que isso está fora do radar das crianças e adolescentes e, no final, esse tipo de filme é para eles. Nós, adultos, podemos curtir, perceber camadas de subtexto que foram pensadas pelos roteiristas, conversar com os filhos sobre eles e, assim, “Mulher Maravilha” é um ótimo gancho para falar de feminismo e quetais. E é, também, ótima diversão.

Os novos filmes do Homem Aranha e dos Guardiões da Galáxia também são ótimos, ótima diversão, mas passáveis, certo? Assim como os novos do Thor ou da Liga da Justiça – que não vi, mas não estou com nenhuma pressa.

Ainda divertidos, dois dos melhores filmes que vi esse ano tem a relação de casais com a aceitação de famílias em seus enredos. “Corra!” é um ótimo exercício de terror e está em quase todas as listas de melhores do ano. Gosto, mas acho exagero. Principalmente pelo papel da namorada, que se mostra apaixonada demais, com muito brilho nos olhos pelo personagem de Daniel Kaluuya, para a virada do terceiro ato. Mesmo em filmes com os pés no nonsense, o universo ficcional deve fazer sentido. Em “Doentes de Amor” temos a história real do relacionamento do comediante paquistanês Kumail Najiani com uma americana diagnosticada com uma rara doença enquanto a família dele não aceita o namoro. Parece açucarado e mais uma “comédia romântica com doentes”, mas é um belo filme sobre relações humanas, com um personagem carismático e uma revelação, essa Zoe Kazan, que parece a Marisa Orth.

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Também gostei de dois filmes violentos e de cenário hostil: “Terra Selvagem” e “O Estranho que nós amamos”. O primeiro tem uma dupla inusitada de policiais investigando um crime na neve e é o trabalho de estréia do diretor Taylor Sheridan. Baseado em fatos reais, tem personagens bem construídos, sólidos, cenas de ação que eu chamaria de complacentes, diferente do ritmo alucinante das cenas dos filmes americanos. Vale muito a pena, fiquei impressionado com esse filme. Também diferente é o filme da Sofia Coppola, refilmagem do clássico de Don Siegel com o Clint Eastwood. Com ótimo elenco e ritmo lento, percebi uma adequação do filme aos novos tempos, diferente do original, que era mais sujo e imoral, sem a preocupação com a correção política. Basta dizer que no filme original, logo nos primeiros minutos, Eastwood beija uma menina de uns 10 anos na boca. Imagina que Sofia bota isso num filme nos dias de hoje… Mas, no final, é um filme bem feito, amarrado, que envolve e levanta questões.

Talvez os filmes que mais impressionaram, tanto a mim quanto a minha mulé, dona Raquel Cabral, tenham sido os esquisitões. Aqui vão eles: “A Ghost Story”, um exercício visual sobre o tempo, com um fantasma clássico tentando entender a vida que já não tem mais – lento, atmosférico, hipnotizador, é um filme que fica na memória; “Lady Macbeth”, outro filme de diretor estreante, sobre uma mulher que é vendida a um homem rico na Inglaterra vitoriana e arruma um amante – o que vai desencadear uma onda de violência e mostrar que os imorais e cínicos têm mais chance de sobrevivência; e “Ao Cair da Noite”, filme de terror onde faltam explicações, se estabelece na faixa da interferência que pessoas estranhas a nós têm em nossas vidas, apesar das boas intenções. Três filmes diferentes e que estão em nossa lista de melhores do ano, sem dúvida.

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Vi os dois alucinantes “A Região Selvagem”, do mexicano Amat Escalante, que não é para todos os gostos, sobre uma criatura alienígena sexual – mas o filme não tem nada a ver com ela, hahaha. E “O Bar”, mais uma colorida metáfora visual para a atual situação da Espanha, pelo Álex de La Iglesia, onde um grupo fica preso dentro de um bar e um atirador do lado de fora mata quem se atrever a sair. Gostei de ambos.

Raquel gostou também do esquisito “Personal Shopper”, mas dormi e não vi e ela me contou então acho que não verei e não gostarei.

Vimos juntos e nos divertimos com “Colossal” e “Bingo – O Rei das Manhãs“.

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Minha lista de Top 10 de 2017, então, até o momento, seria mais ou menos essa:

  1. Guimme Danger
  2. Monsieur & Madame Adelman
  3. Já Não Me Sinto em Casa neste Mundo
  4. Em Ritmo de Fuga
  5. Logan
  6. Corra!
  7. Doentes de Amor
  8. Terra Selvagem
  9. A Ghost Story
  10. Lady Macbeth

Até janeiro espero ver “Marjorie Prime”, “Dunkirk”, “Blade Runner 2049”, “I Called Him Morgan”, “Good Time”, “The Square”, “Lady Bird”, “Me chame pelo seu nome”, “Shape of Water”, “HHhH”, “Detroit”, “The Post”, “Três anúncios para um crime” e “Projeto Flórida”.

Update 11/12: Vimos “Good Time” (Bom Comportamento aqui) e… que merda de filme! Vai de nenhum lugar a lugar nenhum! Por que está em várias listas de melhores? Tem esse clima Winding Refn, com essa trilha sonora eletrônica retrô, com a fotografia escura-colorida, mas nenhuma história – a menos que você considere mil reviravoltas em um filme de duas horas um ótimo achado. Scorsese, que parece ter gostado do filme, já fez isso com “Depois de Horas” – e não é um dos seus melhores. Caia fora desse.

Update 15/01: Vimos “Blade Runner 2049”, “A Forma da Água” e “Três Anúncios para um crime”. Gostei dos três, mas BR não entra na minha lista de melhores pela impressão que me deu de pedir por uma continuação, achei meio desleal. “A Forma da Água” é mais Cinema que o “Doentes de Amor”, então entrou no lugar dele na minha lista. E “Três Anúncios…” é um dos grandes filmes dos últimos anos, vai para o topo da minha lista – é o filme que os irmãos Coen não entregam faz tempo. Delícia. Então minha lista ficou assim:

  • 01 – Três Anúncios para um Crime
  • 02 – Guimme Danger
  • 03 – Monsieur & Madame Adelman
  • 04 – Já Não Me Sinto em Casa neste Mundo
  • 05 – Em Ritmo de Fuga
  • 06 – Logan
  • 07 – Corra!
  • 08 – A Forma da Água
  • 09 – Terra Selvagem
  • 10 – A Ghost Story

 

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